sexta-feira, 13 de junho de 2014

ASSEMBLEIA DE CHAMADOS E DE CONVOCADOS PARA SER FELIZ!



Vivemos em tempos que certamente serão lembrados como marcantes e decisivos para muitas pessoas. Por graça do Espírito Santo temos à frente da Igreja Católica Apostólica Romana a pessoa do Papa Francisco, homem de fé e propagador da alegria evangélica encontrada não apenas em suas palavras, mas antes em seu testemunho de vida.
            O Papa Francisco nos escreveu no ano passado sua exortação apostólica ‘Evangelli Gaudium’ – A alegria do Evangelho – alegria que brota de um encontro pessoal com Jesus Cristo Ressuscitado, alegria que move a vida de todos. Se se encontra uma pessoa dentro da Igreja com cara de vinagre azedo, como nos diz o Papa, é porque não se encontrou de fato com Jesus.
            Nestes últimos meses o Papa encontrou-se com seminaristas, religiosos e religiosas, para uma motivação em vista desta Alegria evangélica, encontro este que nos rendeu uma carta circular intitulada ‘Alegrai-vos’. Com o Papa Francisco aprendemos, pois, a testemunhar antes de qualquer palavra, como outrora ensinou-nos São Francisco. A vida de toda pessoa, e agora, de um modo mais direto, a vida do religioso consagrado, deve resplandecer em alegria, afinal todo religioso chegou a este estado de vida, impulsionado por um encontro com o Senhor Jesus que, assim como o fez com os doze, chamou-os ao seguimento. A vocação nasce então de um chamado, chamado que é feito pessoalmente, chamado que se é sentido no coração, logo então é prerrogativa mais do que eficaz para a alegria, quer-se melhor encontro com o Senhor?
            Ao longo da vida o consagrado deve sempre lembrar-se deste primeiro encontro com o Senhor, afinal é dele que surge toda a história de uma vida, é nele que se fundamente o abandono de um caminho para o seguimento de outro. Caminho que só se caminha firmando-se na escuta da Voz do Mestre que diz ‘Tú és importante para mim, eu amo-te, conto contigo’ (Alegrai-vos -  pag. 15). Caminho este que se percorre com alegria, o Senhor olhou para nossa humildade, retirou-nos das trevas e nos chamou a sua luz maravilhosa, que alegria!
            Todo chamamento é exigente e quanto mais o é o chamado de Cristo que diz, deixa tudo e segue-Me. Neste deixar fica também o nosso querer, o nosso satisfazer-se, o nosso bem estar, a nossa comodidade.  O convite do Senhor sempre foi e continua o sendo para o serviço. O Senhor não nos tira daqui para acomodar-nos ali, numa casa paroquial confortável, com um carro veloz, alguns empregados sempre disponíveis à nossa vontade, com um salário inchado para nossos negócios, pelo contrário, e de um modo exclusivo, Ele nos chama para o serviço, para o discipulado, para encontrar na carne sofrida do pobre a sua imagem Sagrada.
            Durante a vida, o consagrado deve viver a continua preocupação de não deixar-se levar pela cultura do materialismo e do descartável, onde até mesmo as vidas humanas são inseridas, e o homem e a mulher tornam-se desprezíveis, mas viver sempre com a inquietude exigente do Senhor ‘vida em abundancia’, vivendo como Ele viveu adotando suas atitudes, deixando-se invadir pelo seu Espírito, assimilando a sua lógica, compartilhando de seus riscos e de suas esperanças, indo sempre para o intrépido destino, a cruz. Caminhando com a cruz, pela cruz, para a cruz, este é o destino do consagrado, aquele que foge da cruz torna-se mundano, torna-se um padre, um bispo, um papa, um cardeal, mas nunca um discípulo do Senhor.
            O convite para a caminhada ao seu lado acontece uma vez, mas deve ser rememorado sempre, afinal se assim não o for, podemos cair no esquecimento e, vendo-nos sozinhos, agarrarmo-nos no pecado, na tristeza, no vazio interior, no isolamento, no consumismo desenfreado pelas novas e avançadas tecnologias, daremos trabalho para os consultórios. E, rememorado o primeiro convite, o chamado une-se mais uma vez àquele de quem procedeu outrora a voz remetente, e de novo a ouve, quando reza, quando coloca-se em uma oração de escuta frente ao turbilhão de compromissos urgentes e pesados que exigem a nossa rotina e que nos afastam cada vez mais para as periferias existenciais.
            Como missão primeira da caminhada o chamado encontra o anuncio da misericórdia do Senhor, urgente de ser vivenciada pelas pessoas, embrutecidas pela correria do dia a dia e pela superficialidade das relações. Deus ama a todos, age com misericórdia para com todos.  A mão estendida em nossa direção é para reergue-nos apenas. É o rosto do Deus conforto, coragem, esperança, amor, alegria, paz, paciência, que o consagrado apresenta estampado em sua face. O consagrado torna-se luz na vida dos fiéis, torna-se facilitador da Graça, torna-se pai de um rebanho.
            Ordenando a Pedro, Jesus aponta o outro lado da barca para serem jogadas as redes, nossa missão é ir para o outro lado, se todos caminham para lá, corramos sem demora para cá, temos que ir contra a correnteza, permeada do eficientismo  e do descartável. Nadando para longe da ideia da vida consagrada ser um refúgio para fracos e medrosos, mas mostrando a força que nos vem do Senhor através da alegria que resplandece a cada braçada.
            Somente a partir do momento em que o consagrado demonstrar uma vida plena da alegria do encontro com o Senhor, vivendo inteiramente para o serviço, carregando a cruz nas costas e um largo sorriso no coração e no rosto, e o principal, sem dizer uma palavra sequer, aí então tornar-se-ão chamarizes para o mundo, referenciais para a sociedade, atraidores de seguimento.
            Somos chamados então, consagrados ao Senhor, a sairmos alegres em direção as periferias geográficas, urbanas e existenciais, dirigindo-nos à carne pobre e sofrida de Cristo, para, sem tréguas, procurarmos sempre o bem do próximo, saindo de dentro de nossos ‘laboratórios apostólicos’ caminhando rumo ao encontro, abrindo as portas, construindo pontes, levando a ‘vida em plenitude’ para todos.
            Alegrai-vos!

            Sem. João Victor dos Santos Silva

*Texto produzido com base na “Carta circular aos consagrados e as consagradas” do Papa Francisco.

              

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O SILÊNCIO DE DEUS


No princípio a relação do Homem, criatura, com o Deus, seu Criador era de intimidade profunda. O ser humano tinha de diante de si a presença do Senhor, sua figura, sua face. O contato constante o fazia lembrar-se de sua condição de criado,e, portanto, via-se entregue nas mãos de um Ser superior a ele, sob seus cuidados e proteção.

Nestas circunstâncias, o homem não poderia sentir-se isolado e menos ainda abandonado. Esta relação entre Deus e o Humano é interrompida pelo pecado, desobediência dos primeiros, e há uma “quebra de relações”, ao menos imediata. Isto é, não mais se encontram cordialmente. A partir deste momento, se o homem quiser colocar-se em contato com o Criador, utilizar-se-á de artifícios humanos, que pretendem elevar-se até o céu: sacrifícios, oblações, ofertas etc.

O ser humano, com o curso da História, vê-se apartado daquele que o Criou e percebe a fragilidade da forma que encontrou para religar-se com o Divino, isto é, a religião. Mesmo com esse meio ele sente-se distante, rejeitado e abandonado por Deus; como se lê no salmo: “Até quando, ó Senhor, me esquecereis? Até quando escondereis a vossa face? (Sl 12, 2)”.

Este ‘distanciamento’ de Deus é tido também como seu ‘silêncio’, uma falta de resposta às angústias humanas, se comprova isso com o que diz o salmista: “Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, clamo de noite e para mim não há resposta (Sl 21, 2-3).” A falta de resposta por parte de Deus é para o ser humano inquietante, provocativa e, às vezes, causa de revolta.

É como se o esforço que o humano tem para reestabelecer o contato com o Divino fosse inútil, ineficaz. Ele questiona-se sobre a razão do silêncio de Deus. Porém, se esquece de que da outra parte há também o desejo de reestabelecer relações. Deus, por sua vez, almeja e quer religar-se ao humano. E o faz, enviando seu Verbo Divino a terra para anunciar-lhes a Boa Notícia. Este Verbo, o Cristo Jesus, é a própria Palavra de Deus, inclusive sua face revelada; enfim chega ao mundo sua resposta ao Homem. Essa resposta que tanto se esperou.

Todavia, mesmo com a vinda de Cristo, enquanto Palavra e, portanto, Resposta Divina, o silêncio de Deus permanece inquietando o Homem. O que pode significar o silêncio de Deus nestes tempos? O Papa Emérito Bento XVI, certa vez, em resposta à pergunta de uma jovem que o indagava sobre presença de Deus em meio ao silêncio, disse que mesmo a Beata Madre Tereza de Calcutá "com toda a sua caridade, a sua força de fé, sofria com o silêncio de Deus". Isto revela que o silêncio divino acontece mesmo com aqueles que buscam estar mais constante e perfeitamente em sua companhia. Posto que, muitos místicos e santos da Igreja passaram por experiências similares, sem mencionar João da Cruz, Tereza D’Ávila entre muitos outros. Deste modo, conclui-se que o silêncio não é, de maneira alguma, uma espécie de castigo, punição e até mesmo indiferença, pelo contrário, é uma experiência que se vive nesta caminhada rumo ao Eterno. O silêncio é também uma resposta de Deus, uma resposta quieta, discreta, porém fértil; onde se degusta o convívio silencioso do Criador, que ama infinitamente.

PEDRO G. MOREIRA