Vivemos em tempos que certamente serão lembrados como
marcantes e decisivos para muitas pessoas. Por graça do Espírito Santo temos à
frente da Igreja Católica Apostólica Romana a pessoa do Papa Francisco, homem
de fé e propagador da alegria evangélica encontrada não apenas em suas palavras,
mas antes em seu testemunho de vida.
O Papa
Francisco nos escreveu no ano passado sua exortação apostólica ‘Evangelli Gaudium’ – A alegria do
Evangelho – alegria que brota de um encontro pessoal com Jesus Cristo
Ressuscitado, alegria que move a vida de todos. Se se encontra uma pessoa
dentro da Igreja com cara de vinagre azedo, como nos diz o Papa, é porque não se
encontrou de fato com Jesus.
Nestes
últimos meses o Papa encontrou-se com seminaristas, religiosos e religiosas,
para uma motivação em vista desta Alegria evangélica, encontro este que nos
rendeu uma carta circular intitulada ‘Alegrai-vos’. Com o Papa Francisco
aprendemos, pois, a testemunhar antes de qualquer palavra, como outrora
ensinou-nos São Francisco. A vida de toda pessoa, e agora, de um modo mais
direto, a vida do religioso consagrado, deve resplandecer em alegria, afinal
todo religioso chegou a este estado de vida, impulsionado por um encontro com o
Senhor Jesus que, assim como o fez com os doze, chamou-os ao seguimento. A
vocação nasce então de um chamado, chamado que é feito pessoalmente, chamado
que se é sentido no coração, logo então é prerrogativa mais do que eficaz para
a alegria, quer-se melhor encontro com o Senhor?
Ao longo da
vida o consagrado deve sempre lembrar-se deste primeiro encontro com o Senhor,
afinal é dele que surge toda a história de uma vida, é nele que se fundamente o
abandono de um caminho para o seguimento de outro. Caminho que só se caminha
firmando-se na escuta da Voz do Mestre que diz ‘Tú és importante para mim, eu
amo-te, conto contigo’ (Alegrai-vos - pag. 15). Caminho este que se percorre com
alegria, o Senhor olhou para nossa humildade, retirou-nos das trevas e nos
chamou a sua luz maravilhosa, que alegria!
Todo
chamamento é exigente e quanto mais o é o chamado de Cristo que diz, deixa tudo
e segue-Me. Neste deixar fica também o nosso querer, o nosso satisfazer-se, o
nosso bem estar, a nossa comodidade. O
convite do Senhor sempre foi e continua o sendo para o serviço. O Senhor não
nos tira daqui para acomodar-nos ali, numa casa paroquial confortável, com um
carro veloz, alguns empregados sempre disponíveis à nossa vontade, com um
salário inchado para nossos negócios, pelo contrário, e de um modo exclusivo,
Ele nos chama para o serviço, para o discipulado, para encontrar na carne
sofrida do pobre a sua imagem Sagrada.
Durante a
vida, o consagrado deve viver a continua preocupação de não deixar-se levar
pela cultura do materialismo e do descartável, onde até mesmo as vidas humanas
são inseridas, e o homem e a mulher tornam-se desprezíveis, mas viver sempre
com a inquietude exigente do Senhor ‘vida em abundancia’, vivendo como Ele
viveu adotando suas atitudes, deixando-se invadir pelo seu Espírito,
assimilando a sua lógica, compartilhando de seus riscos e de suas esperanças,
indo sempre para o intrépido destino, a cruz. Caminhando com a cruz, pela cruz,
para a cruz, este é o destino do consagrado, aquele que foge da cruz torna-se
mundano, torna-se um padre, um bispo, um papa, um cardeal, mas nunca um
discípulo do Senhor.
O convite
para a caminhada ao seu lado acontece uma vez, mas deve ser rememorado sempre,
afinal se assim não o for, podemos cair no esquecimento e, vendo-nos sozinhos,
agarrarmo-nos no pecado, na tristeza, no vazio interior, no isolamento, no
consumismo desenfreado pelas novas e avançadas tecnologias, daremos trabalho
para os consultórios. E, rememorado o primeiro convite, o chamado une-se mais
uma vez àquele de quem procedeu outrora a voz remetente, e de novo a ouve,
quando reza, quando coloca-se em uma oração de escuta frente ao turbilhão de
compromissos urgentes e pesados que exigem a nossa rotina e que nos afastam
cada vez mais para as periferias existenciais.
Como missão
primeira da caminhada o chamado encontra o anuncio da misericórdia do Senhor,
urgente de ser vivenciada pelas pessoas, embrutecidas pela correria do dia a
dia e pela superficialidade das relações. Deus ama a todos, age com
misericórdia para com todos. A mão
estendida em nossa direção é para reergue-nos apenas. É o rosto do Deus
conforto, coragem, esperança, amor, alegria, paz, paciência, que o consagrado
apresenta estampado em sua face. O consagrado torna-se luz na vida dos fiéis,
torna-se facilitador da Graça, torna-se pai de um rebanho.
Ordenando a
Pedro, Jesus aponta o outro lado da barca para serem jogadas as redes, nossa
missão é ir para o outro lado, se todos caminham para lá, corramos sem demora
para cá, temos que ir contra a correnteza, permeada do eficientismo e do descartável. Nadando para longe da ideia
da vida consagrada ser um refúgio para fracos e medrosos, mas mostrando a força
que nos vem do Senhor através da alegria que resplandece a cada braçada.
Somente a
partir do momento em que o consagrado demonstrar uma vida plena da alegria do
encontro com o Senhor, vivendo inteiramente para o serviço, carregando a cruz
nas costas e um largo sorriso no coração e no rosto, e o principal, sem dizer
uma palavra sequer, aí então tornar-se-ão chamarizes para o mundo, referenciais
para a sociedade, atraidores de seguimento.
Somos
chamados então, consagrados ao Senhor, a sairmos alegres em direção as
periferias geográficas, urbanas e existenciais, dirigindo-nos à carne pobre e
sofrida de Cristo, para, sem tréguas, procurarmos sempre o bem do próximo,
saindo de dentro de nossos ‘laboratórios apostólicos’ caminhando rumo ao
encontro, abrindo as portas, construindo pontes, levando a ‘vida em plenitude’
para todos.
Alegrai-vos!
Sem. João
Victor dos Santos Silva
*Texto produzido com base na “Carta circular aos consagrados
e as consagradas” do Papa Francisco.