quarta-feira, 4 de junho de 2014

O SILÊNCIO DE DEUS


No princípio a relação do Homem, criatura, com o Deus, seu Criador era de intimidade profunda. O ser humano tinha de diante de si a presença do Senhor, sua figura, sua face. O contato constante o fazia lembrar-se de sua condição de criado,e, portanto, via-se entregue nas mãos de um Ser superior a ele, sob seus cuidados e proteção.

Nestas circunstâncias, o homem não poderia sentir-se isolado e menos ainda abandonado. Esta relação entre Deus e o Humano é interrompida pelo pecado, desobediência dos primeiros, e há uma “quebra de relações”, ao menos imediata. Isto é, não mais se encontram cordialmente. A partir deste momento, se o homem quiser colocar-se em contato com o Criador, utilizar-se-á de artifícios humanos, que pretendem elevar-se até o céu: sacrifícios, oblações, ofertas etc.

O ser humano, com o curso da História, vê-se apartado daquele que o Criou e percebe a fragilidade da forma que encontrou para religar-se com o Divino, isto é, a religião. Mesmo com esse meio ele sente-se distante, rejeitado e abandonado por Deus; como se lê no salmo: “Até quando, ó Senhor, me esquecereis? Até quando escondereis a vossa face? (Sl 12, 2)”.

Este ‘distanciamento’ de Deus é tido também como seu ‘silêncio’, uma falta de resposta às angústias humanas, se comprova isso com o que diz o salmista: “Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, clamo de noite e para mim não há resposta (Sl 21, 2-3).” A falta de resposta por parte de Deus é para o ser humano inquietante, provocativa e, às vezes, causa de revolta.

É como se o esforço que o humano tem para reestabelecer o contato com o Divino fosse inútil, ineficaz. Ele questiona-se sobre a razão do silêncio de Deus. Porém, se esquece de que da outra parte há também o desejo de reestabelecer relações. Deus, por sua vez, almeja e quer religar-se ao humano. E o faz, enviando seu Verbo Divino a terra para anunciar-lhes a Boa Notícia. Este Verbo, o Cristo Jesus, é a própria Palavra de Deus, inclusive sua face revelada; enfim chega ao mundo sua resposta ao Homem. Essa resposta que tanto se esperou.

Todavia, mesmo com a vinda de Cristo, enquanto Palavra e, portanto, Resposta Divina, o silêncio de Deus permanece inquietando o Homem. O que pode significar o silêncio de Deus nestes tempos? O Papa Emérito Bento XVI, certa vez, em resposta à pergunta de uma jovem que o indagava sobre presença de Deus em meio ao silêncio, disse que mesmo a Beata Madre Tereza de Calcutá "com toda a sua caridade, a sua força de fé, sofria com o silêncio de Deus". Isto revela que o silêncio divino acontece mesmo com aqueles que buscam estar mais constante e perfeitamente em sua companhia. Posto que, muitos místicos e santos da Igreja passaram por experiências similares, sem mencionar João da Cruz, Tereza D’Ávila entre muitos outros. Deste modo, conclui-se que o silêncio não é, de maneira alguma, uma espécie de castigo, punição e até mesmo indiferença, pelo contrário, é uma experiência que se vive nesta caminhada rumo ao Eterno. O silêncio é também uma resposta de Deus, uma resposta quieta, discreta, porém fértil; onde se degusta o convívio silencioso do Criador, que ama infinitamente.

PEDRO G. MOREIRA

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