No princípio a relação do Homem, criatura, com o Deus, seu Criador era de intimidade profunda. O ser humano tinha de diante de si a presença do Senhor, sua figura, sua face. O contato constante o fazia lembrar-se de sua condição de criado,e, portanto, via-se entregue nas mãos de um Ser superior a ele, sob seus cuidados e proteção.
Nestas circunstâncias, o homem
não poderia sentir-se isolado e menos ainda abandonado. Esta relação entre Deus
e o Humano é interrompida pelo pecado, desobediência dos primeiros, e há uma “quebra
de relações”, ao menos imediata. Isto é, não mais se encontram cordialmente. A partir
deste momento, se o homem quiser colocar-se em contato com o Criador, utilizar-se-á
de artifícios humanos, que pretendem elevar-se até o céu: sacrifícios, oblações,
ofertas etc.
O ser humano, com o curso da
História, vê-se apartado daquele que o Criou e percebe a fragilidade da forma
que encontrou para religar-se com o Divino, isto é, a religião. Mesmo com esse
meio ele sente-se distante, rejeitado e abandonado por Deus; como se lê no
salmo: “Até quando, ó Senhor, me esquecereis?
Até quando escondereis a vossa face? (Sl 12, 2)”.
Este ‘distanciamento’ de Deus é
tido também como seu ‘silêncio’, uma falta de resposta às angústias humanas, se
comprova isso com o que diz o salmista: “Ó
meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, clamo de noite e para mim não há
resposta (Sl 21, 2-3).” A falta de resposta por parte de Deus é para o ser
humano inquietante, provocativa e, às vezes, causa de revolta.
É como se o esforço que o humano
tem para reestabelecer o contato com o Divino fosse inútil, ineficaz. Ele questiona-se
sobre a razão do silêncio de Deus. Porém, se esquece de que da outra parte há
também o desejo de reestabelecer relações. Deus, por sua vez, almeja e quer
religar-se ao humano. E o faz, enviando seu Verbo Divino a terra para
anunciar-lhes a Boa Notícia. Este Verbo, o Cristo Jesus, é a própria Palavra
de Deus, inclusive sua face revelada; enfim chega ao mundo sua resposta ao
Homem. Essa resposta que tanto se esperou.
Todavia, mesmo
com a vinda de Cristo, enquanto Palavra e, portanto, Resposta Divina, o
silêncio de Deus permanece inquietando o Homem. O que pode significar o silêncio
de Deus nestes tempos? O Papa Emérito Bento XVI, certa vez, em resposta à
pergunta de uma jovem que o indagava sobre presença de Deus em meio ao silêncio, disse que mesmo a Beata Madre Tereza de Calcutá "com toda a
sua caridade, a sua força de fé, sofria com o silêncio de Deus". Isto revela
que o silêncio divino acontece mesmo com aqueles que buscam estar mais
constante e perfeitamente em sua companhia. Posto que, muitos místicos e santos
da Igreja passaram por experiências similares, sem mencionar João da Cruz,
Tereza D’Ávila entre muitos outros. Deste modo, conclui-se que o silêncio não
é, de maneira alguma, uma espécie de castigo, punição e até mesmo indiferença, pelo
contrário, é uma experiência que se vive nesta caminhada rumo ao Eterno. O silêncio
é também uma resposta de Deus, uma resposta quieta, discreta, porém fértil;
onde se degusta o convívio silencioso do Criador, que ama infinitamente.
PEDRO G. MOREIRA
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