Uma Análise sobre o encontro
da CRB - Núcleo de Guarulhos (Conferência dos Religiosos do Brasil) com o Pe.
José Carlos Pereira, abordando sobre o livro “Novos Ventos no Convento” de sua
própria autoria, em 03/04/2016.
Abordagem
Principal
A
Comunidade
A importância
de renovar-se no ambiente religioso, nos dias atuais a busca pela vida
religiosa registrou uma grande queda segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) e do CERIS (Centro de Estatística
Religiosa e Investigações Sociais) em vocações para a vida religiosa, e qual
seria a causa de isso estar acontecendo, esta realidade assombra muitas
Congregações e Ordens religiosas.
Por
outro lado, a vida diocesana tem aumentado o número de vocações, mas como
compreender essa inversão, onde os religiosos estão tendo uma queda e os
diocesanos um aumento, qual seria o motivo para que isso viesse a acontecer ao
longo dos anos.
A
Igreja está atenta a movimentações a este respeito, e não é por acaso que
muitas vezes a própria Igreja motiva a renovação da vida religiosa, um exemplo
claro foi quando o Papa Francisco deu abertura ao ano da Vida Consagrada onde
foi aberto em 29 de novembro de 2014 e se encerou em 02 de fevereiro de 2016,
fazendo-se recordar a importância de voltar o nosso olhar para a origem da
fundação de cada Congregação ou Ordem Religiosa.
Colocar-se
com um olhar especial para com o fundador e retornar a fonte de espiritualidade
e carisma de cada Ordem e/ou Congregação religiosa, é preciso embeber-se da
motivação dos fundadores que animou e continua a animar tantas ordens
religiosas.
Não
basta somente esta busca pela renovação, mas um verdadeiro testemunho de vida,
também o documento de Aparecida da V Conferência Geral do Episcopado
Latino-Americano e do Caribe, de forma geral chama a atenção a este ponto onde
é todos chamados a uma renovação.
As
pastorais de forma geral, hoje se estrutura na maneira de manutenção, e se
perdeu o âmbito missionário que precisa estar presente no meio da comunidade,
novamente a Igreja por meio do Documento 100 da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) “Comunidade de Comunidades”, onde ressalta a importância de
resgatar a dimensão missionaria e poder formar uma comunidade autentica como é
citado em cf. At 2, 42-47, onde relata sobre uma comunidade perfeita.
Levando
em base o que foi colocado anteriormente, pode-se narrar sobre a questão a vida
em comunidade, antes de trabalhar diretamente com a vida comunitária, se torna
necessário observar algumas dificuldades da vivencia em comunidade em especial
do âmbito religioso.
O
ser humano foi criado para viver em conjunto com outros, não se vive sozinho em
uma bolha, mas sim em conjunto, neste meio termo a sociedade chama a cada um
para viver em sociedade por meio das cidades, estados, países, continentes,
porem isso coloca diretamente uma barreira com a vida em comunidade.
Primeiro,
a questão da sociedade, onde o indivíduo é chamado a se destacar no trabalho,
nos estudos, nos grupos de convivência, entre outras circunstâncias, quando a
questão “destaque” vem à tona então revela-se o comportamento da sociedade que
coloca o ser humano e condiciona para ser individualista, egoísta, não partilha
com o próximo a sua volta, faz de tudo para se ascender em relação ao outro, e
o mérito é individual.
Já
na vida comunitária, ou seja, vida em comunidade em especial a religiosa, está
forma de vida da sociedade se contrapõem, pois, na comunidade busca-se um
crescimento do todo, e não do individual sozinho, mas partilhando os dons,
tristezas, alegrias, dor, e cada um na comunidade se torna o complemento do
outro, quando um é elogiado, todos ficam alegres pois participam do crescimento
do irmão de comunidade.
Esta
seria uma comunidade perfeita, mas sabe-se de seus desafios ao longo do tempo,
quando vários indivíduos estão reunidos em um único ambiente, onde forma a
comunidade, cada ser possui a sua individualidade, particularidade, sua cultura
regional, cultura familiar, seus gostos em fim, todo indivíduo é singular, com
isso pode-se gerar atritos devido as várias formas e peculiaridade de sua
identidade e personalidade.
Mas,
muitas vezes isso pode causar discussões, desentendimentos, e até a divisão de
uma comunidade, com o tempo tudo isso pode minar uma comunidade inteira,
resumindo a vida de comunidade simplesmente aos momentos de oração e refeição,
seria a plena certeza que não está se vivendo um verdadeiro Espirito de
Comunidade e sim uma situação de sociedade onde cada um é por si, não se
preocupa com seu irmão de comunidade, apenas se tona um peso.
Quando
a comunidade chega a esta situação muitos pontos podem ser questionados, como
por exemplo, como é a formação interna da comunidade, como é tratada a
individualidade, que é diferente de ser individualista, como é tratado o
relacionamento entre os irmãos da comunidade quando surge discordâncias, muitos
são os pontos que podem levar a comunidade a minar-se.
Quando
em uma comunidade de religiosos, onde se possui um estatuto próprio e/ou regras
que estrutura esta comunidade, um dos pontos que pode causar dificuldades de convivência
é a forma com que a formação é conduzida, quando se refere a formação logo já
faz-se um paralelo com a sociedade, não deveria ser assim, pois a formação
então começa a realizar formas, moldes, onde o indivíduo que entra para esta
comunidade já sabendo das regras é colocado neste molde com o objetivo formar
seres de forma igualitária, e isto fere diretamente a comunidade, pois quando
se conduz assim, separa-se, e molda, como um processo funil e isto a sociedade
já faz com toda sua estrutura de competitividade e individualismo.
Está
se abordando apenas um aspecto no caso da formação como citado no parágrafo
anterior, mas então como seria a forma ideal de uma formação, um dos elementos
é o respeito a individualidade, ao entrar no processo de formação e respeitando
as particularidades de cada indivíduo, desta forma a comunidade, ou seja, a
vida em comunidade ganha força e começa a valorizar a individualidade de cada
integrante, nada mais é que, colocar todos os dons e habilidades de cada um em
comum com todos, desta forma um completa o outro, ou seja, um que possui o dom
de tocar um instrumento musical, pode complementar o outro irmão que usa de sua
voz para cantar, a beleza da vida comunitária está na partilha, de dons,
dificuldades, fragilidades, facilidades de cada um, vida em comum é crescer em
conjunto.
Quando
a comunidade compreende este ponto, só tende a crescer, alguns pontos que podem
ajudar a comunidade viver em harmonia são:
-
Respeito a individualidade;
-
A partilha;
-
A aceitação do diferente ou das diferenças;
-
O exercício do poder;
-
O serviço ao próximo;
-
A humildade;
-
A vivencia os votos.
Quando
se observa estes pontos a vida em comunidade tende a gerar bons frutos, um
ponto destes citados a cima que não pode passar despercebido é “o exercício do
poder”, como o superior vê o ponto de partida quando ele se encontra no poder
ou afrente da comunidade, isso pode causar uma diferença
imensa, quando o que exerce o poder, usa como uma posição de destaque e
superioridade então novamente a comunidade está caminhando a passos largos para
se dividir e com o tempo minar todo o grupo, como pode ver a advertência de
Paulo na 1Cor 1,10-16, porém quando este exerce o poder e na condição e no
tratamento como serviço para a comunidade, então esta, tende a se desenvolver e
crescer na unidade.
Um
dos objetivos de uma comunidade é viver em plena partilha e unidade, porem para
isto, pode ocorrer algumas situações que pode dividir a comunidade, o fator
vocação é um ponto chave para definir a saúde de uma comunidade religiosa,
infelizmente, muitos são os casos de indivíduos que não são verdadeiramente
vocacionados a vida religiosa, pois neste quesito é complexo, envolve fatores
diversos, mas se tome apenas um como ponto de analise, quando a vocação que
surge do meio da sociedade, é para o indivíduo como uma forma de fugir da
sociedade então esta vocação pode gerar consequências destrutivas para a vida
de comunidade, agora se a vocação do indivíduo é vista que, onde se encontra na
sociedade e exerce alguma função, estudo, trabalho, em fim alguma atividade,
porem isto lhe causa um sentimento de estar faltando algo ou tudo isso não lhe
completa, então temos indícios fortes de uma vocação saudável e as chances de
somar a comunidade são grandes.
A
vida em comunidade da segurança para seus integrantes. Quando se partilha e se
respeita mutuamente, a comunidade é um porto seguro, pois todos se apoiam um ao
outro, por isso as vezes a vida em comunidade religiosa pode chamar a atenção
da sociedade, pois a sociedade é individualista e competitiva um com o outro.
Diferente da vida comunitária onde se busca o bem comum, e a partilha; A
segurança nesta vida requer obediência, sendo um dos votos mais importantes,
pois quando se tem obediência os demais são automaticamente observados, quando
a obediência é observada na comunidade então muitas situações são evitadas e
atritos desnecessários são também sucumbidos.
Quando
a comunidade faz a experiência em partilhar tudo em comum em uma comunhão
fraterna onde se faz a observância de alguns pontos como:
-
Partilha
-
Ter tudo em comum
-
Nada é meu, tudo é nosso
-
Os dons
-
Os talentos
- As
alegrias
- As
tristezas
- As
conquistas
- As
derrotas
Então
se compreendeu verdadeiramente o espirito em viver em comunidade sobre o mesmo
teto, e quando assumo a viver em comunidade precisa-se assumir a totalidade do
outro, é aí que mora a maior dificuldade, em não aceitar a totalidade do outro
e sim apenas, aspectos da totalidade e com isto corre o risco de gerar as
conversas paralelas a respeito do outro, então a famosa fofoca, onde somente
pode minar toda a comunidade, quando acontece desta forma, existe a facilidade
de falar do outro, mas tem a dificuldade de falar de si mesmo, e de suas
mazelas.
Observe
como a vida religiosa em comunidade de maneira geral e fascinante, mas cheias
de desafios, e são os desafios envolvidos que nos causa grande fascínio, como é
citado em cf. At 2, 42-47, onde relata uma comunidade perfeita, quando a
comunidade está em unidade e consegue ver e viver em união, no amor, na mesma
fé e no mesmo carisma/ou ideal, então a comunidade gera frutos pelo testemunho
de vida, onde o objetivo é crescer todos juntos e unidos na fé.
O
que mantem uma comunidade na unidade é o bem comum, tudo é em vista do bem
comum e da partilha em uma comunidade, o valor da comunidade no caso dos
Apóstolos, o bem comum era a própria comunidade formada no ideal de Jesus.
Vida
em comunidade é sempre colocar-se a serviço do outro buscando o bem comum de
todos, está é a beleza e a grande riqueza de se viver em comunidade, em
fraternidade unidos em grande partilha de bens e dons que todos tem em
acrescentar no grupo, como recorda Paulo cf. 1Cor 12,1-31 ; A vida religiosa
não é algo do passado e sim algo que está vivo até hoje, buscando se moldar e
renovar com o objetivo que todos alcance a verdadeira vocação de servir e
colocar a serviço do próximo na partilha, como também Jesus mostratantos
exemplos de partilha em sua caminhada.
A
vida religiosa em comunidade precisa buscar diariamente se renovar como Jesus
ressuscitado na vida de todos, deixar de ser o velho homem, e se tornar o novo
homem que renasce por meio do batismo, e todos que seguem na vida religiosa
onde busca partilhar tudo em comum ou seja em comunidade, precisa sempre buscar
a renovação tanto de si mesmo, mudando o próprio interior, assim contribuir
para a renovação da comunidade como um todo e sempre fortalecidos em Jesus
Cristo como os discípulos foram animados no relato em cf. Lc 24,1-12.
Sem. Henrique Nunes Oliveira - Estudante do Primeiro Ano de Filosofia
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