A ESPIRITUALIDADE TEATINA
Roberta Duranti
O embrião da espiritualidade teatina é encontrado na Companhia do Divino Amor, em particular no Oratório Romano, no qual S. Caetano e J. Carafa (o futuro Papa Paulo IV) reforçaram a própria experiência espiritual; em 1524 com os coirmãos Bonifácio de' Colli e Paulo Consiglieri, deu vida a nova instituição religiosa, cuja regra tinha o fim prioritário de dotar a Igreja de sacerdotes (precisamente, clérigos regulares) que com seu zelo apostólico e a santidade da própria missão, restituíssem nova dignidade ao clero[1].
Centralidade da figura sacerdotal, portanto, como primária dispensadora das graças divinas, a exercitar com grande humildade. Estas são as características fundamentais da espiritualidade teatina:
a) Em resposta a corrupção moral e espiritual na qual transbordava a Igreja, ocorria restituir ao ministério sacerdotal uma nova dimensão exemplar.
b) A Ordem dos Clérigos Regulares Teatinos, considerando a sacralidade do cristianismo, estabelece a prioridade da vida sacerdotal, conduzida à luz da própria vocação, renunciando totalmente aos próprios bens temporais.
c) Na base desta doutrina está a recusa da própria vontade, a qual é associada o combate pela vida de santidade; o que só se torna possível com a recusa dos bens temporais, acima mencionada, por meio da qual se atinge a liberdade e a paz do espírito.
d) A tranquilidade da alma, então, repousa na confiança filial e total na Divina Providência, que consente ao cristão alcançar a íntima união com Deus.
e) A vida espiritual se realiza e alcança a perfeição somente mediante a oração pessoal, a comunhão frequente, a piedade eucarística e finalmente com o culto à Virgem.
f) O sacerdote que amadureceu a própria espiritualidade segundo estes ensinamentos, pode exercitar o apostolado confiado, segundo a regra da obediência, e conduzir a sua vida em comum como prevê a própria regra.
São Caetano Thiene operou uma transformação sobre a vida sacerdotal dentro da comunidade eclesiástica, unindo a tradição das ordens monásticas com as exigências do clero regular, a fim de criar uma nova corporação de sacerdotes particularmente zeladores.
Uma exemplificação do conceito de espiritualidade teatina se encaixa bem com esta formulação:
<<Reforma do indivíduo como base e pressuposto da renovação total; a austeridade dos costumes, foi característica principal desta renovação, tal que os clérigos regulares foram definidos "reformadores", às vezes, "reformados", pelo exercício contínuo da abnegação da própria vontade[2].>>
O caráter "militante" deste processo de santificação consiste numa autêntica luta interior contra os inimigos da vida espiritual cristã (afetos desordenados, amor próprio, concupiscência, ganância etc.); de resto o próprio S. Caetano formulou o conceito de "combate espiritual" numa carta a L. Magnani do dia 28 de Janeiro de 1518 com estas palavras:
<<tenho tolerado bem tantos anos os sofrimentos mortais a todo o momento dados a minha mísera alma. Servi a carne, o mundo e o inimigo das almas. Talvez fosse agora a hora, Reverenda Madre em Cristo, que eu deveria fazer a guerra sem trégua para estes meus inimigos traquinas e superá-los com a ajuda da Cruz[3]...>>
A espiritualidade teatina enquanto isso havia deixado a sua marca indelével também na Igreja secular: João Pedro Carafa, já bispo de Chieti e arcebispo de Bríndisi antes do encontro com S. Caetano, foi eleito papa em 1555 com o nome de Paulo IV, e até a sua morte, vinda em 1559, foi um defensor intransigente da Contra reforma, que se manifestou com a adoção de medidas destinadas a moralização da Roma renascente, e, no plano da ortodoxia, dilatou as competências do Santo Ofício e potencializou a contundência do poder da Santa Inquisição.
É de se lembrar aqui, a singular atenção manifesta de um outro Papa sucessor de Carafa, o Cardeal Camilo Borghese, Paulo V, (pontífice de 1605 a 1621), que confirmou os privilégios da Ordem dos Clérigos Regulares Teatinos, apoiando a fundação de novas sedes a Ravenna e a Bergamo. Em particular, o pontífice compartilha a dor da Ordem pela morte de S. André Avellino, bem como de Scupoli, como pode ser visto a partir de L. Pastor na História dos Papas[4].
[1] B. Mas, La Spiritualità Teatina, Roma, 1951, p. 10.
[2]Cfr. B Mas, La Spiritualità Teatina, Roma, 1951, p. 14.
[3] Cfr. La lettera di S. Gaetano Tiene a Laura Magnani, 28 de Janeiro 1518, in De Maulde-Salvadori, San Gaetano da Thiene e la Riforma cattolica italiana, Roma, 1911,p. 50, F Andreu, Le lettere di San Gaetano da Thiene, Città del Vaticano, B.A.V., collana di Studi e Testi 177, 1954, p. 15.
[4] L. Pastor, Storia dei papi(História dos Papas), Vol XII, Roma, 1930, p. 199.
Texto retirado da revista teatina REGNUM DEI, ano LXII, 2007, n. 133
II capítulo do artigo “História da tradição de um texto: o combate espiritual”
Tradução: Pedro Gustavo Moreira
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