segunda-feira, 26 de maio de 2014

A ESPIRITUALIDADE TEATINA



XI

A PERFEIÇÃO: A CARIDADE


A espiritualidade teatina, derivação e flor da semente do Oratório do Divino Amor, não tem outro fim que plantar e radicar nos corações o amor de Deus.
Todo aquele duro trabalho de renegação, de luta constante contra si mesmo, de pobreza absoluta e de separação total, mira só a desbravar o terreno, a eliminar os obstáculos e a render o coração sempre mais liberto e capaz do Amor Divino. Trabalho interior, portanto, não é um trabalho negativo, mas ao invés disso é eminentemente positivo, dado que à medida que a alma se liberta dos afetos terrenos, se apropria o amor divino, sendo assim um trabalho de duplo efeito: separação de si mesmo e união com Deus.
Toda a ascese teatina, então, está ao serviço da virtude rainha; a caridade, e tende a conseguir a perfeição. Um precioso documento espiritual fará melhor compreender e provar o nosso acerto. É o Pe. Bonifácio dei Colli, que em 1527 escreve ao Bispo de Verona G. M. Giberti sobre o modus vivendi dos primeiros Teatinos: “ Compreenderá, sobretudo, o que é mais importante e, por exclusão, o que é mais útil, ou seja, a força dos votos, e o objetivo a que se propuseram aqueles que emitiram os votos, pelo que nos reunimos em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo – a Caridade. Aprenderá, através da experiência diária, a palavra do Senhor, e sua eficácia quando diz: “Aquele que desejar vir atrás de Mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-Me,” entretanto pela porta estreita, percorrendo o caminho do pranto e da penitência, até atingir a meta da mais perfeita Caridade. Porque toda renúncia é inútil, para aqueles que deixaram o mundo, se não tratarem com o máximo empenho de dominar a concupiscência e de atingir a Caridade. Esta só pode ser conservada, no dizer de Santo Agostinho, quando alimentada pelas obras, pelas palavras e pelos semblante. E nós acrescentamos, quando à caridade se ajustam os votos, a profissão, toda Congregação. Faltar à Caridade é tão grave, entre nós, como revoltar-se contra Deus, pois sabemos que ela foi de tal modo recomendada por Jesus Cristo aos Apóstolos que, onde falta a caridade, falta tudo e , possuindo a caridade, possui-se todas as coisas”.
A caridade deve consequentemente permear toda a vida; essa transforma toda atividade humana, sem essa também os maiores sacrifícios são sobrenaturalmente vãos, ao passo que essa autentica a eternidade também os mínimos esforços na via do bem.
É esta a doutrina do divino amor, a qual ocupa, como é conhecido, um posto preeminente na espiritualidade italiana do século XVI. O amor divino inspirava as geniais iniciativas na alma de Caetano como o inflamavam os sentimentos. Na sua carta a L. Mignani o argumento do amor de Deus e do fogo divino recorre a cada passo, e ele pede que reze para que a sua alma seja uma chama ardente de caridade.
Esta divina caridade tanto mais encheu o coração de Caetano quanto esse era afastado de qualquer afeto terreno (...)
Caridade que ele recomenda às filhas espirituais do mosteiro da Sapiência, desejando ardentemente que todas “sejam vestidas em carne e espírito da perfeita e eterna só da virtude da santa caridade, a qual é filha e mãe da santa voluntária obediência; aquela vos recomendo senão à morte, naquele estado, naquela caminhada e não duvideis que vos conduzirá ao porto de salvação”.; é pela falta de sólido fundamento da caridade que tantos homens ilustres se afundam na heresia (...)
Só o fervor da caridade liberta a alma da tibieza espiritual, que o Thiene chama “abominável pecado do torpor, o qual faz com que a alma se contente de não estar em pecado mortal”.
Este divino amor não deve consistir em um mero sentimentalismo, mas deve unir de tal modo a vontade humana coma divina, que só esta se submeta em tudo, porque o amor tende sempre à união das pessoas amadas. S. Caetano quer servir o Senhor por puro amor e não pelo temor da morte próxima ou por outro próprio interesse.
Combate Espiritual no primeiro capítulo, precisando a essência da perfeição na vida cristã, aponta o amor de Deus como o apogeu da santidade.
A divina caridade é, além disso, aquilo que se pretende conquistar na luta interior contra si mesmo e contra as paixões. Daqueles que aspiram à perfeição se exige a prática do puro amor. Scupoli concilia vivamente a pureza de intenção, que faz tudo com o objetivo de agradar unicamente a Deus.
(...)

Deste modo o amor de Deus está acima do monte da perfeição; todos os esforços devem ser endereçados a alcançar este cume onde reside o mesmo Deus, porque Ele é caridade e quem vive na caridade, vive em Deus e Deus nele.

                                                                                                                         BARTOLOMEO MAS

Tradução Pedro G. Moreira

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