Quando da ocasião da saída de
Judas do grupo dos doze, convocados pelo senhor Jesus Cristo para serem os
primeiros a ouvirem e verem a novidade do Reino de Jesus, foi suplicado ao
mesmo Senhor que, através do vento do Espírito Santo, escolhesse um para que
tomasse lugar junto aos doze. Pedro, a pedra fundamental, é quem dirige a
oração a Deus, ‘Senhor, tu que conhecesses o coração de todos. Mostra-nos qual destes dois escolheste para
ocupar, neste ministério e apostolado, o lugar que Judas abandonou para seguir
o seu destino!’ (At 1,24). É escolhido então Matias, este que, eleito, tem a
missão de levar a boa nova do evangelho a toda região da Judéia.
Em
nossos tempos ouvimos dizer questões referentes a uma tal “crise de vocações”,
lidos os relatos de muitos, temos um cenário onde ninguém, ou quase ninguém,
quer mais seguir pelos caminhos apontados outrora por Jesus, preferem as
facilidades e os benefícios que uma vida, dita ‘no mundo’, oferece, ou seja,
uma vida mais tranquila e sem exigências tais como a do evangelho, que garante a
própria vida.
Certo
o é de que, permeados por um impulso de pescadores de homens, buscamos de uma
forma frenética por vocações, por corações dispostos a se doarem para o reino
de Deus e seu serviço, imprimimos uma centena de milhar de panfletos, banners,
montamos stands, slides, terços, musicas, orações, feiras, tudo com intuito de
angariar vocações, e, o mais grave, angariar vocações para si, não para a
Igreja. Contudo parece-me que esquecemos de um certo Jesus o Cristo, o primeiro
convocador de discípulos, o primeiro a ir ao encontro das piores pessoas, entre
as quais pecadores públicos, cobradores de impostos, fracos e titubeantes na
fé, para serem os que comem à sua mesa, para serem seus amigos.
Foi,
é e sempre será o Senhor Jesus quem escolhe, chama e convoca os seus
discípulos, a nós cabe o entremeio, cabe a ponte de ligação entre o chamado e a
confirmação do chamado, cabe a nós a formação do chamado, a estruturação de sua
vida intelectual, religiosa e comunitária. Não cabe a nós o chamado, cabe apenas
o exemplo, o qual devemos dar a fim de que se clareiem as ideias dos que se sentem
chamados. Aquele que passa pela experiência ajuda os que passarão. O que sai do
consultório explica ao próximo qual será o procedimento.
Neste
sentido não podemos falar de uma crise de vocações, afinal quem chama e suscita
vocacionados é o próprio Deus, devemos falar então de uma crise no anuncio do
evangelho. Se não se encontram vocações, ou seja, corações dispostos e
generosos para servir, é porque antes de tudo a Palavra de Deus, motivadora,
viva e eficaz, não fora anunciada. Não se pode querer servir a um senhor que
nem nome se sabe. Ao deus desconhecido que Paulo quis dar o nome de ‘Eu Sou’ foram
dirigidos apenas risos que destinavam-se a Paulo. Primeiro é preciso falar do
mestre, ensinar sobre o mestre, abrir caminho e preparar o terreno. Antes do
Senhor Jesus nascer da Virgem Maria, e mais precisamente seis meses antes, o
precursor foi enviado a este mundo, a fim de ‘preparar o caminho do Senhor,
endireitar as veredas’ (Marcos 1,3). Somente àquele que é anunciado o Senhor, será
capaz de reconhecer a voz deste mesmo Senhor que falar-lhe-á ao coração.
Antes
de culparmos o avanço tecnológico, a busca incansável pelo aumento das riquezas,
o consumismo exacerbado pela falta de vocações, deveríamos olhar para nossas
atitudes, para o quanto falamos de Jesus e de seu evangelho, olhar para como
está o exemplo que damos, olhar para onde estamos apontando. Se há uma crise de
vocações esta se deve unicamente pela falta de esmero para com as coisas de
Deus por parte daqueles que a priori
foram chamados.
O
Senhor Jesus chama, disto não se pode duvidar, porem sua voz pode tornar-se
inaudível em meio a tanto dinheiro, vaidade e orgulho, questões que inúmeras
vezes tomam conta de reuniões do clero, das conversas entre padres, das rodas
de tricô das senhoras piedosas do apostolado da oração. Preocupa-se demasiado
com as questões burocráticas, deixa-se de lado o evangelho do Senhor Jesus.
Jesus
não para de suscitar corações jovens prontos a, encontrada uma porta aberta,
gastarem a sua vida pela causa do Evangelho. Para nós cabe, chamados pelo mesmo
Senhor, afeiçoarmo-nos do Cristo Bom Pastor, modelo de acolhimento,
misericórdia e caridade.
Crise
nas vocações, não, crise nos exemplos!
Sem. João Victor
dos Santos Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário