sábado, 16 de abril de 2016

Novos Ventos nos Conventos - A Comunidade

Uma Análise sobre o encontro da CRB - Núcleo de Guarulhos (Conferência dos Religiosos do Brasil) com o Pe. José Carlos Pereira, abordando sobre o livro “Novos Ventos no Convento” de sua própria autoria, em 03/04/2016.

Abordagem Principal
A Comunidade

A importância de renovar-se no ambiente religioso, nos dias atuais a busca pela vida religiosa registrou uma grande queda segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do CERIS (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais) em vocações para a vida religiosa, e qual seria a causa de isso estar acontecendo, esta realidade assombra muitas Congregações e Ordens religiosas.
Por outro lado, a vida diocesana tem aumentado o número de vocações, mas como compreender essa inversão, onde os religiosos estão tendo uma queda e os diocesanos um aumento, qual seria o motivo para que isso viesse a acontecer ao longo dos anos.
A Igreja está atenta a movimentações a este respeito, e não é por acaso que muitas vezes a própria Igreja motiva a renovação da vida religiosa, um exemplo claro foi quando o Papa Francisco deu abertura ao ano da Vida Consagrada onde foi aberto em 29 de novembro de 2014 e se encerou em 02 de fevereiro de 2016, fazendo-se recordar a importância de voltar o nosso olhar para a origem da fundação de cada Congregação ou Ordem Religiosa.
Colocar-se com um olhar especial para com o fundador e retornar a fonte de espiritualidade e carisma de cada Ordem e/ou Congregação religiosa, é preciso embeber-se da motivação dos fundadores que animou e continua a animar tantas ordens religiosas.
Não basta somente esta busca pela renovação, mas um verdadeiro testemunho de vida, também o documento de Aparecida da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, de forma geral chama a atenção a este ponto onde é todos chamados a uma renovação.
As pastorais de forma geral, hoje se estrutura na maneira de manutenção, e se perdeu o âmbito missionário que precisa estar presente no meio da comunidade, novamente a Igreja por meio do Documento 100 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) “Comunidade de Comunidades”, onde ressalta a importância de resgatar a dimensão missionaria e poder formar uma comunidade autentica como é citado em cf. At 2, 42-47, onde relata sobre uma comunidade perfeita.

Levando em base o que foi colocado anteriormente, pode-se narrar sobre a questão a vida em comunidade, antes de trabalhar diretamente com a vida comunitária, se torna necessário observar algumas dificuldades da vivencia em comunidade em especial do âmbito religioso.
O ser humano foi criado para viver em conjunto com outros, não se vive sozinho em uma bolha, mas sim em conjunto, neste meio termo a sociedade chama a cada um para viver em sociedade por meio das cidades, estados, países, continentes, porem isso coloca diretamente uma barreira com a vida em comunidade.
Primeiro, a questão da sociedade, onde o indivíduo é chamado a se destacar no trabalho, nos estudos, nos grupos de convivência, entre outras circunstâncias, quando a questão “destaque” vem à tona então revela-se o comportamento da sociedade que coloca o ser humano e condiciona para ser individualista, egoísta, não partilha com o próximo a sua volta, faz de tudo para se ascender em relação ao outro, e o mérito é individual.
Já na vida comunitária, ou seja, vida em comunidade em especial a religiosa, está forma de vida da sociedade se contrapõem, pois, na comunidade busca-se um crescimento do todo, e não do individual sozinho, mas partilhando os dons, tristezas, alegrias, dor, e cada um na comunidade se torna o complemento do outro, quando um é elogiado, todos ficam alegres pois participam do crescimento do irmão de comunidade.  
Esta seria uma comunidade perfeita, mas sabe-se de seus desafios ao longo do tempo, quando vários indivíduos estão reunidos em um único ambiente, onde forma a comunidade, cada ser possui a sua individualidade, particularidade, sua cultura regional, cultura familiar, seus gostos em fim, todo indivíduo é singular, com isso pode-se gerar atritos devido as várias formas e peculiaridade de sua identidade e personalidade.
Mas, muitas vezes isso pode causar discussões, desentendimentos, e até a divisão de uma comunidade, com o tempo tudo isso pode minar uma comunidade inteira, resumindo a vida de comunidade simplesmente aos momentos de oração e refeição, seria a plena certeza que não está se vivendo um verdadeiro Espirito de Comunidade e sim uma situação de sociedade onde cada um é por si, não se preocupa com seu irmão de comunidade, apenas se tona um peso.
Quando a comunidade chega a esta situação muitos pontos podem ser questionados, como por exemplo, como é a formação interna da comunidade, como é tratada a individualidade, que é diferente de ser individualista, como é tratado o relacionamento entre os irmãos da comunidade quando surge discordâncias, muitos são os pontos que podem levar a comunidade a minar-se.
Quando em uma comunidade de religiosos, onde se possui um estatuto próprio e/ou regras que estrutura esta comunidade, um dos pontos que pode causar dificuldades de convivência é a forma com que a formação é conduzida, quando se refere a formação logo já faz-se um paralelo com a sociedade, não deveria ser assim, pois a formação então começa a realizar formas, moldes, onde o indivíduo que entra para esta comunidade já sabendo das regras é colocado neste molde com o objetivo formar seres de forma igualitária, e isto fere diretamente a comunidade, pois quando se conduz assim, separa-se, e molda, como um processo funil e isto a sociedade já faz com toda sua estrutura de competitividade e individualismo.
Está se abordando apenas um aspecto no caso da formação como citado no parágrafo anterior, mas então como seria a forma ideal de uma formação, um dos elementos é o respeito a individualidade, ao entrar no processo de formação e respeitando as particularidades de cada indivíduo, desta forma a comunidade, ou seja, a vida em comunidade ganha força e começa a valorizar a individualidade de cada integrante, nada mais é que, colocar todos os dons e habilidades de cada um em comum com todos, desta forma um completa o outro, ou seja, um que possui o dom de tocar um instrumento musical, pode complementar o outro irmão que usa de sua voz para cantar, a beleza da vida comunitária está na partilha, de dons, dificuldades, fragilidades, facilidades de cada um, vida em comum é crescer em conjunto.
Quando a comunidade compreende este ponto, só tende a crescer, alguns pontos que podem ajudar a comunidade viver em harmonia são:
- Respeito a individualidade;
- A partilha;
- A aceitação do diferente ou das diferenças;
- O exercício do poder;
- O serviço ao próximo;
- A humildade;
- A vivencia os votos.
Quando se observa estes pontos a vida em comunidade tende a gerar bons frutos, um ponto destes citados a cima que não pode passar despercebido é “o exercício do poder”, como o superior vê o ponto de partida quando ele se encontra no poder ou afrente da comunidade, isso pode causar uma diferença imensa, quando o que exerce o poder, usa como uma posição de destaque e superioridade então novamente a comunidade está caminhando a passos largos para se dividir e com o tempo minar todo o grupo, como pode ver a advertência de Paulo na 1Cor 1,10-16, porém quando este exerce o poder e na condição e no tratamento como serviço para a comunidade, então esta, tende a se desenvolver e crescer na unidade.
Um dos objetivos de uma comunidade é viver em plena partilha e unidade, porem para isto, pode ocorrer algumas situações que pode dividir a comunidade, o fator vocação é um ponto chave para definir a saúde de uma comunidade religiosa, infelizmente, muitos são os casos de indivíduos que não são verdadeiramente vocacionados a vida religiosa, pois neste quesito é complexo, envolve fatores diversos, mas se tome apenas um como ponto de analise, quando a vocação que surge do meio da sociedade, é para o indivíduo como uma forma de fugir da sociedade então esta vocação pode gerar consequências destrutivas para a vida de comunidade, agora se a vocação do indivíduo é vista que, onde se encontra na sociedade e exerce alguma função, estudo, trabalho, em fim alguma atividade, porem isto lhe causa um sentimento de estar faltando algo ou tudo isso não lhe completa, então temos indícios fortes de uma vocação saudável e as chances de somar a comunidade são grandes.
A vida em comunidade da segurança para seus integrantes. Quando se partilha e se respeita mutuamente, a comunidade é um porto seguro, pois todos se apoiam um ao outro, por isso as vezes a vida em comunidade religiosa pode chamar a atenção da sociedade, pois a sociedade é individualista e competitiva um com o outro. Diferente da vida comunitária onde se busca o bem comum, e a partilha; A segurança nesta vida requer obediência, sendo um dos votos mais importantes, pois quando se tem obediência os demais são automaticamente observados, quando a obediência é observada na comunidade então muitas situações são evitadas e atritos desnecessários são também sucumbidos.
Quando a comunidade faz a experiência em partilhar tudo em comum em uma comunhão fraterna onde se faz a observância de alguns pontos como:
- Partilha
- Ter tudo em comum
- Nada é meu, tudo é nosso
- Os dons
- Os talentos
- As alegrias
- As tristezas
- As conquistas
- As derrotas
Então se compreendeu verdadeiramente o espirito em viver em comunidade sobre o mesmo teto, e quando assumo a viver em comunidade precisa-se assumir a totalidade do outro, é aí que mora a maior dificuldade, em não aceitar a totalidade do outro e sim apenas, aspectos da totalidade e com isto corre o risco de gerar as conversas paralelas a respeito do outro, então a famosa fofoca, onde somente pode minar toda a comunidade, quando acontece desta forma, existe a facilidade de falar do outro, mas tem a dificuldade de falar de si mesmo, e de suas mazelas.
Observe como a vida religiosa em comunidade de maneira geral e fascinante, mas cheias de desafios, e são os desafios envolvidos que nos causa grande fascínio, como é citado em cf. At 2, 42-47, onde relata uma comunidade perfeita, quando a comunidade está em unidade e consegue ver e viver em união, no amor, na mesma fé e no mesmo carisma/ou ideal, então a comunidade gera frutos pelo testemunho de vida, onde o objetivo é crescer todos juntos e unidos na fé.
O que mantem uma comunidade na unidade é o bem comum, tudo é em vista do bem comum e da partilha em uma comunidade, o valor da comunidade no caso dos Apóstolos, o bem comum era a própria comunidade formada no ideal de Jesus.
Vida em comunidade é sempre colocar-se a serviço do outro buscando o bem comum de todos, está é a beleza e a grande riqueza de se viver em comunidade, em fraternidade unidos em grande partilha de bens e dons que todos tem em acrescentar no grupo, como recorda Paulo cf. 1Cor 12,1-31 ; A vida religiosa não é algo do passado e sim algo que está vivo até hoje, buscando se moldar e renovar com o objetivo que todos alcance a verdadeira vocação de servir e colocar a serviço do próximo na partilha, como também Jesus mostratantos exemplos de partilha em sua caminhada.   
A vida religiosa em comunidade precisa buscar diariamente se renovar como Jesus ressuscitado na vida de todos, deixar de ser o velho homem, e se tornar o novo homem que renasce por meio do batismo, e todos que seguem na vida religiosa onde busca partilhar tudo em comum ou seja em comunidade, precisa sempre buscar a renovação tanto de si mesmo, mudando o próprio interior, assim contribuir para a renovação da comunidade como um todo e sempre fortalecidos em Jesus Cristo como os discípulos foram animados no relato em cf. Lc 24,1-12.


Sem. Henrique Nunes Oliveira - Estudante do Primeiro Ano de Filosofia

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