segunda-feira, 3 de março de 2014

Símbolos dos Teatinos


1 - A Cruz desnuda
A santa Cruz, venerada na ordem Teatina deste de sua fundação, assumiu na nossa espiritualidade um lugar de destaque tão grande que passou a nos identificar, se posso atreve-me; aquilo com o qual nos identificávamos como cristãos passou a ser nossa identidade. Assim pois um teatino é aquele que sabe ver a Cruz, assim como nossos fundadores, não como sinal de morte e sofrimento, mas como sinal de mudança,símbolo de uma fé que busca nas dificuldades do dia a dia a luta que garante a salvação e a gloria de Deus que nos criou, que nos ama e nos quer junto de si.

Para melhor expressar melhor seu significado transcrevo:
“Não existem dias tão solenes e significativos como o do nascimento de nossa Companhia. A decisão de funda-la foi tomada na festa da Invenção da Santa Cruz, e procurou-se fazer coincidir sua feliz realização com o dia da gloriosa Exaltação da Cruz. A Cruz acolheu em seu regaço a nossa Companhia apenas nascida, e era justo que nascesse em tão gloriosa data uma companhia que professava pobreza absoluta como a de Cristo na Cruz, que pregava a mortificação da Cruz, e que parecia tornar descobrir e a exaltar a Cruz, a reinstaurar a austera forma de vida apostólica em uma nova família clerical. Por isso, estas duas celebrações da Cruz foram simples objeto de especial veneração entre nós, que nunca desejemos ser condecorados com outro brasão ou insígnia que não fosse a Cruz. Este é o distintivo oficial de nossa congregação; esta é a insígnia de nossas casas e de nossos templos, de nossas alfaias sagradas e domesticas de modo que os Clérigos Regulares podem ser chamados de Religiosos da Cruz, como eram chamados os antigos cristãos, como afirma Tertuliano”.

Uma expressão que muito bem sintetiza essa espiritualidade enraizada na Cruz de Cristo foi elaborada pelo espanhol Pe. Jerônimo de La Lama, quando no dia da profissão dos primeiros teatinos,ao final da Santa Missa celebrada no altar de Santo André, o cerimoniário da Basílica de São Pedro fez vir a Cruz processional que conduziria nossos fundadores até o altar da confissão na mesma referida Basílica:
“Desta maneira vieram no dia da Santa Cruz, atrás da Santa Cruz, para abraçar o caminho da Cruz” (in die sanctae Crucis, post Crucem, ad amplexandam viam Crucis).

Nosso pai fundador, São Caetano, sabiamente disse quando de sua ordenação presbiteral: “Torna-se sacerdote é ligar minha vida à Cruz de Cristo”! Essa expressão nos demonstra claramente qual é a espiritualidade sacerdotal de nosso pai e nos aponta o caminho para qual deveria estar orientado nosso coração e nossas forças: fazer-se um com Cristo crucificado!
Apresento o desenvolvimento deste emblema para os teatinos dos primeiros séculos:
Século XVI – a cruz se torna símbolo de todos os reformadores;
1533 – Pe. Caetano é designado para a fundação da casa em Nápoles e aos pés da Cruz implora a Deus um companheiro que soubesse crucificar sua vontade, o que lhe é enviado o Pe. João Marinoni ;
Dom João Pedro Carafa escreve que foi decidido que nenhum emblema secular fosse posto nas igrejas teatinas a não ser a Cruz sobre o trimonte;
1536 – o trimonte encimado pela cruz desnuda já aparecem nos documentos;
1549 – carimbo de madeira usado por Santo André Avelino para lacrar cartas oficiais da Ordem;
1562 – Dom Paulo Burali D’Arezzo escreve para o capitulo que havia proibido colocarem brasões particulares na Igreja de São Silvestre no Quirinal porque não era costume da Ordem;
1570 – Pe. João Marinoni impede que seja colocadas outros emblemas em São Paulo Maior que não fosse a Cruz,
1573 – A cruz sobre um trimonte heráldico é esculpido nas portas da Casa de São Silvestre no Quirinal de Roma;
1578 – Dom Marcelo Maiorana chegou à sua diocese de Cotrone a pé e carregando uma grande cruz até a cadetral
Século XVII – o emblema teatino é esculpido nas laterais da Basílica de Santo André Della Valle;
1609 – a Primeira Historia dos  Clérigos Regulares, o autor João Batista Del Tufo traz como símbolo a cruz sobre o trimonte e a coroa de espinhos;
1628 – o símbolo teatino vem estampado nos comentários ás Constituições do Pe. Carlos Pellegrino;
1680 – na fachada da Igreja de São Caetano em Florença  junto ao brasão teatino foram postas as figuras de duas mulheres, uma simboliza a pobreza e a outra a confiança em Deus;
Na primeira metade do século XVIII é esculpido o emblema teatino na Igreja de São Caetano em Vicenza com o acréscimo da inscrição “INRI” e com a coroa de espinhos, tendo a seguinte exortação: “Reparaste o estandarte do universo, emblema dos Clérigos Regulares”.

2 - A Cruz na espiritualidade de nosso pai São Caetano
Para nosso fundador a cruz é um verdadeiro convite a uma mudança de vida e a uma profunda configuração com o Cristo que nela se deixou pregar por amor a nós e apara nossa salvação. São Caetano acreditava que militando sob a Cruz de Cristo se poderia vencer toda má inclinação, toda imperfeição, sem tréguas nem descanso, progredir sempre para Deus. Aos que se apresentava para ingressarem na Ordem ele exortava:
“Aqui só existem os que procuram o Cristo Crucificado”.
“Aqui vivemos congregados sob o jugo da Cruz”.
Nas frases acima citadas, São Caetano não quer dizer aos que chegam  que a vida é sofrimento e desalento, amargura e tristeza, mas sim que a vida sob a Cruz é de luta que leva a vitoria, morte que leva a ressurreição, esperança que nos une a Cristo.
Novamente transcrevo aqui algumas linhas da obra “Teatinos” que expressão muito bem a espiritualidade de nosso fundador:
“Para Caetano, a Cruz é o principio de toda reforma, é a sementeira de toda colheita, é o lugar de toda renovação e a condição de toda ressurreição”.
“Para os teatinos a Cruz é a estrutura interna que mantém toda atividade e irradiação do sacerdote reformado. O seguimento de Cristo é para os teatinos, a imitação do Cristo crucificado, e esta coincide para eles com a vida religiosa”.
Um trecho da carta de nosso cofundador Bonifacio De’Colli expressa bem o sentimento dos quatro primeiros teatinos e os requisitos para quem pretendia se unir a eles:
“Aprenderá através da experiência de cada dia, qual é o sentido e a força da palavra do Senhor que diz: Aquele que deseja vir atrás de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua Cruz e me siga, entretanto pela porta estrita e caminhando pelo pranto da penitência até chegar às praias de uma caridade sem fim”!
O retorno ao Evangelho é sempre um retorno à Cruz e os grandes reformadores sempre foram homens da Cruz. Para os teatinos era programa da reforma interior, pela qual se deve começar infalivelmente, até a da igreja. O caminho para a reforma do ser e da Igreja é um só: a Cruz!
Muito se diz que sempre um santo guia outro santo, assim sendo, nosso pai Caetano se deixava conduzir pelos escrito de um padre do deserto chamado João Cassiano e do qual se acredita ter extraído de suas “Colações” uma síntese espiritual e que mais tarde toda a Ordem assumiu para si: a Cruz, a perfeição evangélica e a confiança na providência.

3 – O trimonte
Ainda em nosso emblema se encontra sob a Cruz três montes os quais podemos atribuir diversos significados:
- a Santíssima Trindade;
-os votos que caracterizam a maioria dos institutos religiosos: pobreza, castidade e obediência;
-os três sustentáculos da vida religiosa: a palavra de Deus, os Sacramentos e a devoção à Virgem Maria;
Mas aqui, quero me ater a um simbolismo que um sacerdote, Pe. João Maria de Cortesis contemporâneo dos primeiros teatinos intuiu na vida daquela comunidade de homens profundamente ligados à Cruz:
a)- O desprendimento: viver desapegado de tudo e todos, possuir como se nada tivesse, não ater o coração a nada, senão a Deus e ao cumprimento de Sua Vontade;
b)- A radical pobreza:  coração livre de todo apego terreno, pronto para deixar um local e partir em missão para outro;
c)- A confiança em Deus providente: nunca esperar em suas próprias forças, sempre se abandonar ao Pai do céu que nos ama e sabe de nossas necessidades.

4 – “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus...”
Este trecho do Evangelho de Mateus (Mt 6,33a) nos convida a não nos atermos a coisas passageiras, coisas que perderemos e que nada poderemos fazer para prolongarmos sua existência. Só o Reino de Deus vale a pela ser instaurado, só ele pode corresponder às nossas aspirações de paz, felicidade, alegria, amor, caridade perfeita, tudo o mis que possa vir a fugir disso leva a frustração e decepção porque não tem base solida e alicerce seguro. Deus é o idealizador desse Reino, mas nós somos seus construtores que a cada gesto de caridade, amor, perdão, acolhida o vai edificando nesta terra para o consumar no céu!

5 – “...e a sua justiça, e todas as coisas vos serão dadas por acréscimo!”
Essa segunda parte deste chamado de Cristo no mesmo Evangelho (Mt 6,33b) nos pede para buscarmos a justiça deste Reino. Ora mas qual seria a sua justiça? O apóstolo Paulo nos reponde na sua carta aos Romanos (Rm 14,17-19):

“Pois o Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça e paz e alegria o Espírito Santo. Quem serve assim a Cristo agrada a Deus e é estimado pelos homens. Portanto, busquemos tenazmente tudo o que contribui para a paz e a edificação de uns pelos outros”.
Assim por justiça entendemos dar ao outro aquilo que ele merece, ou seja, não na nossa medida, mas na medida em que o outro o tem direito, Deus age da melhor forma nos dando todos os dons necessários para uma vida digna e saudável, mas fica sempre na nossa decisão o que faremos desse dom, podemos exercer a justiça do Reino no momento em que nos deixarmos conduzir por essa palavra que quer nos fazer viver em plenitude.

A alegria que vem do Espírito Santo não se configura nunca com essa alegria passageira e fugaz que o mundo nos apresenta e insiste em nos impregnar. A alegria que vem Deus é algo que nos transforma e nos leva a buscar a felicidade do outro e a enxergar no outro a presença de Deus! Quem é feliz no Espírito Santo não se deixa arrastar por coisas mesquinhas mas, independente do exterior traz em si algo de belo e vivo que só quem espera em Deus pode demonstrar.

6 – Conclusão
Creio que nossos fundadores escolheram esses sinais para expressarem a missão que a nova companhia queria empreitar: renovar-se para renovar a Igreja, desapegar-se completamente de todo vinculo que possa destruir o homem e sua dignidade, ligarem-se a Cristo de forma intima e completa assumindo sua Cruz e missão, anunciar, e mais que isso, instaurar com a Força do Espírito Santo o Reino de Deus já aqui, na justiça, na paz, fazendo-se sinais de uma profunda reforma, que mais do que na estrutura, seria do próprio ser cristão voltando às fontes e vivendo na sinceridade de sua vocação:

“Pobres de tudo, desnudos de qualquer recurso próprio, vivendo do amor de Deus!”

Sem. João Amaro

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